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domingo, 10 de outubro de 2010

A memória humana é um palimpsesto.

A memória humana é como um livro. Pois bem, imaginemos um caderno de 100 páginas. Você tem essas 100 páginas para escrever a sua história, a sua memória, ocupando todo o espaço de cada página. Você acha que cabe? Eu acho que não.
Por isso, nós selecionamos aquilo que há de mais importante para ser escrito... O que nos ensinou mais, o que significou mais, aquilo que nos faz bem, ou, ao menos, nos faz melhor. E as outras lembranças? A gente acaba nos desfazendo de algumas. Outras a gente escreve, mas depois apaga. Ou escreve por cima, porque às vezes, não queremos deixar de tê-las. Então a gente escolhe o que quer levar no nosso caderno, organiza um modo de dispor tudo isso nessas 100 páginas, lembrando de que sempre surgirão mais palavras para serem escritas.
Isso não quer dizer que nós esqueçamos o que já passou... E sim que nós sobrepomos nossas memórias, de modo que algumas ficam entocadas por anos (até  que por algum motivo voltemos para resgatá-las) ou para sempre (quando seu conteúdo não mais nos interessa ou quando não nos lembramos de visitá-las). A memória é um caderninho apagado várias vezes e reescrito outras tantas.
Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa de apagar o caso escrito.

Machado de Assis
Existem várias provas disso. A resignação, o perdão, a superação... A gente esquece tanta coisa para garantir a harmonia no futuro... Ou não esquece, mas finge esquecer, ou ignora. Acho que nem tem nome para isso. Tem gente que passa por cada coisa... e mesmo assim vai vivendo. Mas nós somos assim, sempre dando a volta por cima. Até porque, se a gente se amarrasse às memórias, não ia conseguir tocar a vida. A gente ia viver numa caixinha com vários caderninhos escritos e só.
Então, no final das contas, a nossa vida depende mesmo é desse apagar e reescrever constante. Nós apagamos aquilo que nos faz mal. Porque, muitas vezes, nos desfazer de algumas memórias é o caminho para tornar possível novas situações ou então evitá-las. É isso que nos proporciona novos começos.
Mas também há muitas lembranças que escrevemos à caneta e que não há corretivo que apague: alguns bons momentos; alguns ruins, mas que nos ensinaram, ensinam e vão continuar ensinando, o que torna tê-los guardados tão importante. Há ainda, aquelas memórias que são recorrentes. Memórias que nós apagamos sempre, mas a reescrevemos também muitas vezes, e tantas vezes, que elas acabam por marcar a folha, ainda que apaguemos de novo. Então, de alguma forma, elas ficam lá... Mesmo com tantas outras coisas escritas por cima.
O que me incomoda nesse escrever e apagar, é aquilo que nós não conseguimos resgatar depois. Tem tanta passagem boa das nossas vidas que nós esquecemos. Tantos detalhes e tantos momentos que ficam lá, enterrados em algum lugar, embaixo de várias camadas de novas memórias e que nós não conseguimos acessar mais, mesmo sabendo que estão lá, com certeza, entre o papel e os anos mais recentes das nossas vidas. É chato perder tanta coisa boa...
Mas fazer o que? O nosso livro tem que continuar a ser escrito... Outras das nossas memórias têm que ser sobrepostas, algumas ainda vão perder lugar ou espaço, faz parte... A vida é assim, até que o nosso lápis acabe.

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